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petroleira, suas amplas problemáticas assim como ações de resistência.
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Neste artigo gostaríamos de recordar alguns fatos da história do petróleo,
para compreender a incidência deste na constituição da civilização
capitalista moderna. Se trata de um processo histórico que o colocou no
coração da sociedade humana, quando o mesmo converteu-se no núcleo da
produção e consumo do século XX, e agora, quando define a encruzilhada
histórica do mundo globalizado do século XXI.
Antes da utilização moderna e capitalista do petróleo houveram diversos
usos humanos: os gregos durante as guerras médicas criaram uma espécie de
lança-chamas para incendiar os barcos dos persas, dando-lhe um uso similar
ao que o exército ?hitita? havia feito em terra anos antes. Nessa mesma
época, no Oriente Médio, os sumidouros de petróleo eram lugares de rituais
para diversas populações. Em nosso continente americano, ele esteve
presente em muitas culturas; por exemplo no que hoje é o Equador, serviu
para a elaboração de vasilhas e para impermeabilizar as canoas na
península de Santa helena. Na América do Norte, várias populações
indígenas lhes davam um uso medicinal.
Sem dúvida, o petróleo adquiriu um caráter tecnológico central somente com
a sociedade urbana moderna, que começou a ter necessidades motrizes e de
iluminação muito maiores do que qualquer outra sociedade, as quais ao
largo da segunda metade do século XIX o petróleo vai respondendo com
eficiência. O motor de combustão, já próprio da revolução industrial,
requeria um combustível que fosse barato e ligeiro. O petróleo cumpriu
essa necessidade que não era somente da produção na fábrica mas
indispensável também para todo o transporte de objetos e pessoas que
tecnicamente revolucionava-se com muita intensidade, desde a aparição do
trem e logo com os inventos-chave como o automóvel, o avião e ?cohetes?.
O uso do petróleo e o desenvolvimento da petroquímica estiveram durante as
primeiras três décadas do século xx ligados sobretudo à insdústria
automobilística, marinha e aeronáutica. O desenvolvimento da indústria
automotriz foi um processo que fundamentalmente pertenceu aos Estados
Unidos junto à indústria petroleira. A articulação destes dois ramos da
indústria vão esboçando pela primeira vez o que é indentificável como um
padrão petroleiro de produção e consumo. É muito importante assinalar que
este foi conduzido desde sua origem por capital privado estadunidense, que
logo marcará a pauta do avanço desenfreado da civilização capitalista.
O sistema tecnocientífico desta civilização teve uma espécie de segunda
revolução industrial impulsionada pelas guerras mundiais, reacomodações
geopolíticas desse mesmo sistema. As guerras são as que vão tornando o
petróleo o elemento nuclear da civilização que agora é introduzido pouco a
pouco em diversos pontos da nova estrutura produtiva.
À época da primeira guerra mundial foi necessário como combustível para um
transporte mais rápido com fins bélicos. Como material, começou a adquitir
importância com a produção do ?negro humo? para a borracha e
posteriormente para fazer a borracha sintética que substituiria a borracha
natural, proveniente das serigueiras.
Isto iniciou um desenvolvimento tecnológico que se pontencializaria
fortemente na segunda metade da década de 1930, quando inicia a segunda
grande fase desta história com o descobrimento do plástico de origem
petroquímica. A segunda guerra mundial foi a preparação da globalização
petroleira. Nela indústrias químicas descobrem, e os exércitos
implementam, uma série de produtos como explosivos e armas que requerem
petróleo em sua elaboração, mas também materiais como os plásticos e as
fibras sintéticas que rapidamente se empregam de modo massivo, como o
nylon, o pvc e o polietileno. Se generaliza o uso de tubos, mangueiras,
discos, revestimentos para solos, lâminas e construção de aparatos e
instalações de caráter sintético por sua resistência à produtos químicos;
por outra lado, cada vez mais o plástico vai constituindo-se desde
utensílios domésticos e roupa até acessórios militares, como os
pára-quedas.
Ao finalizar a Segunda Guerra Mundial chega o momento de reconstruir com
petróleo um mundo que havia sido devastado, pois a indústria estadunidense
foi menos afetada pela guerra que as européias e a soviética, e conseguiu
reciclar sua indústria militar em uma caminhada ao consumo. Assim, os
plásticos e o parque automotriz se expandem de maneira vertiginosa pelo
mercado mundial e a crescente vida urbana, potencializando sua hegemonia.
O auge econômico dos Estados Unidos logo depois da guerra permitiu que se
consolidasse seu domínio do mercado mundial, que estava sustentado
materialmente no padrão petroleiro da indústria, e em um modo de vida
baseado nela. O uso do automóvel, principal produto consumidor de
petróleo, os eletrodomésticos, a roupa de nylon ou os objetos de plástico
vão configurando o consumo, que conforma o conteúdo da reprodução social
que se realiza com o American way of life. Todo o mundo da riqueza
material e ideológica tendeu a seguir o modelo estadunidense, e com isso,
colocar o petróleo em um lugar central.
As tecnologias que se desenvolviam começaram a expandir o petróleo para
outros ramos de produção, como o da agricultura massiva, cuja revolução
verde ?em verdade uma reciclagem tecnológica da industria bélica da
Segunda Guerra Mundial? colocou o petróleo como sua principal matéria
prima, praticamente usado em todos os níveis da nova agro-indústria, desde
o combustível das máquinas até os componentes sintéticos dos novos
pesticidas e adubos.
A União Soviética, e os países aonde existia uma disputa de controle,
nunca conseguiram fazer com que a sua população tivesse um consumo de
produtos derivados do petróleo tão massivo como a dos Estados Unidos,
mesmo o petróleo também sendo fundamental para suas economias. A hegemonia
dos Estados Unidos, e dos países desenvolvidos que depois da guerra imitam
a sua indústria petroleira, geram no terceiro mundo um tipo de sociedade,
que pouco a pouco clama por maiores benefícios desta riqueza.
Estes países produtores de petróleo na década de 70, agredidos múltiplas
vezes, aproveitam do esgotamento petrolífero que ocorre nos Estados Unidos
para abastecer o mundo material que haviam criado e reduzem a sua produção
de petróleo, e assim, dão um passo para que se agudize uma série de
nacionalizações da indústria petroleira que já haviam iniciado décadas
atrás mas que iam a um passo mais lento. Já não é a época em que é
possível relacionar petróleo e progresso. Nos mesmos países produtores de
petróleo a dependênccia deste material para obter lucros trouxe consigo
severas crises durante a década de 80 pelo endividamento externo. Assim, a
partir dos anos 70 a crise que vive o meio-ambiente por culpa da queima do
petróleo já é impossível de ocultar e, sem reparar nisso, a indústria
petroleira segue seu avanço global. Neste período tem força a
microeletrônica e expande-se o uso dos computadores, cuja tecnologia é
inconcebível sem os plásticos. Os objetos do petróleo prosseguem
aumentando de modo vertiginoso em uma sociedade cada vez mais petrolizada.
O petróleo torna-se um vício constitutivo da sociedade capitalista, vício
que tem causado guerras, crises, aquecimento global e danos à saúde (como
o câncer pela adição de ingredientes sintéticos nos alimentos, por
exemplo).
Pelos problemas que implica o petróleo, diversas alternativas tecnológicas
têm sido tentadas, mas estas não conseguem freiar o poder hegemônico do
padrão petroleiro. A dependência que tem a indústria automotriz que
prossegue crescendo ano a ano, a exigência de energia para as fábricas do
mundo, e o constante desenvolvimento de materiais plásticos prosseguem
impondo o petróleo.
Além do que, as energias alternativas estão controladas pelos mesmos
petroleiros capitalistas que não têm um interesse real em que estas
tornem-se efetivas globalmente, enquanto não se esgotem as reservas
petroleiras do planeta. O petróleo, por sua capacidade energética, tem
beneficiado os processos produtivos, a quantidade de intercâmbio de força
de trabalho e produtos que permitiu enquanto combustível, e o tipo de
consumo que se gerou com ele, constituindo o nosso mundo contemporâneo. A
?civilização material? do capitalismo, da qual falava Braudel, teve sua
continuação desde a segunda metade do século XIX até agora, no
desenvolvimento da civilização petroleira. Neste período, foi-se gerando o
corpo global da sociedade capitalista, que teve uma gênese no petróleo,
sua energia vital ?ao converter-se no principal combustível? e logo no
século XX constituiu materialmente esse mesmo corpo social ?ao
converter-se como material sintético em elemento decisivo da produção e
consumo da modernidade estadunidense.
A história do petróleo se une à gênesis da civilização humana mais
complexa que se tem conhecimento, e que integrou à toda sua urbe a sua
lógica, colocando nela seu selo petroleiro. Atualmente, este
hidrocarboneto ainda define o metabolismo técnico e geopolítico de nosso
corpo social e segue com ele colocando em questão nossa sobrevivência no
planeta. Agora se faz evidente a enfermedade crônica do corpo social
global por causa de sua dependência ao petróleo, devemos perguntar-nos se
queremos que siga a cega dinâmica de nossa sociedade que nos conduziu a
esta situação, onde a acumulação privada de capital e seus representantes,
os países hegemônicos e as grandes empresas, ditam nosso destino como
humanidade.
Omar Bonilla e Pavel Veraza
fonte:
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fonte:
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2012/09/512571.shtml